quarta-feira, 30 de abril de 2008

Num sei, mas quero saber

Outro dia, vendo Tv, passou um programa aqui sobre o Gordon Ramsay. Ele é o chefe de cozinha mais milionário e desaforado que apareceu por aí. Ele tem um reality show no qual atua como um "consultor" em restaurantes à beira do abismo, da falência, etc, chamado "Kitchen Nightmares". O programa é bacana, tem um propósito interessante e tals. E eu já admirava o cara, porque fica na cara (hehe) que ele sabe realmente o que faz. E eu realmente curto pessoas que sabem o que estão fazendo (mas eu falo de saber meeeesmo e não arrotar por aí que sabe sem saber bulhufas...). Bom, eu admiro gente assim, porque elas me passam sensação de segurança, confiança e no mínimo, Perseverança (sim, letra maiúscula, porque essa virtude é a chave pra muitas coisas na vida).
Falando em Perseverança, ele contou sobre a vida dele. O cara nasceu numa família classe média-baixa no interior da Escócia. O pai era alcoólatra e batia na mãe dele e o irmão era viciado em heroína. A realidade era tão insuportável que ele sentiu que tinha que sair dali, ou ficar o menos possível naquele antro que era a casa dele. Foi se dedicar às coisas que gosta, entre elas, jogar futebol (e chegou a ser profissional) e depois estudar culinária (que o fez parar de jogar futebol). Logo em seguida foi trabalhar num restaurante bacana, foi morar sozinho na França e, claro, deslanchou. Hoje o cara tem um império de milhões de dólares, dezoito restaurantes espalhados em vários continentes, programas de Tv, livros publicados, etc...
Numa parte do programa, o repórter perguntou a ele se ele teria um recado ou conselho para os jovens chefes de cozinha que estão por aí, e ele disse algo como: "Você precisa, pelo menos uma vez na vida sair de casa, viver sem grana, sozinho, num lugar estranho. Sem sua mãe, seu pai ou sua namorada. Precisa passar dificuldade, sair da zona de conforto, aprender um novo idioma. Tente construir um novo personagem. Você será outro ao final disso tudo. Você verá o bem que fez à sua auto-estima e à sua vida."
Bom... apesar de eu não ser chefe de cozinha , tomei o conselho pra mim. Engraçado como a gente toma as coisas que ouve prá gente quando a gente se encaixa nelas, quando fazem sentido naquele momento.
Poisintão... vesti a carapuça e tô aqui quebrando a cabeça, pra melhorar minha vida, pra fazer o que estou vivendo aqui valer a pena.
Somado a isso, li no blog da Tititi esse trecho do Fernando Pessoa, brilhante, pra variar:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa)

Somado a isso... conversei com uma ariana hoje, que que amo muito, que tá lá em "Belzonte", que me encheu de esperança. O carneirinho do desenho é pra ela, que a vida toda foi exemplo de Perseverança pra mim, sempre escalando a montanha pra chegar no topo, escalando mais de uma, inclusive, ao mesmo tempo...

Ahn... e ainda tem outra coisa pra somar... não quero mais ser dona de "textos tristes". Quero ter mais motivos para que, se é que eles se parecem comigo (meus textos), que eles reflitam qualquer sentimento que não a tristeza.
E o que eu vou fazer eu ainda num sei, mas vou saber em breve. Vocês também, podem ficar sossegados.
Nat


segunda-feira, 28 de abril de 2008

Na planície e os tomates

Num livro que terminei de ler há pouco, achei esse trecho aqui:

"(...) e entrando na planície, deve estar estranhando a quietude, porque no plano tudo parece sempre imóvel, tudo exceto o céu: as estrelas, as nuvens, o arco sem luz do horizonte se movem como mansas ovelhas enquanto as coisas na terra não avançam pra lugar nenhum, apenas saltam de escuridão em escuridão."
(Tomás Eloy Martinez - Soberba - O vôo da rainha)

Mariela Silberberg ("Krassy Knoll")

Gostei muito do livro e desse trecho, que me diz sobre coisas que se passam comigo agora. Quero escrever algo a respeito, em breve, assim que meu humor amansar e parar de brigar com a inspiração.
Prometo que vou.
Tenho umas coisinhas chatas pra resolver hoje e não tô a fim de fazer nenhuma delas. Acho que por isso não vai dar tempo de sentar aqui e me ocupar de escrever, que era o que eu queria mesmo fazer hoje. A tarefa que mais tá me irritando é ter de ir ao mercado só pra comprar o tomate, que eu deixei prá trás ontem. Que raiva que fiquei de mim mesma, quando cheguei em casa...
Tomates imbecis...
Vou resolver meus tomates. Não demoro.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Dona Lourdinha

Oi, pessoal!
Mandei o post "Mulherzinha" pra algumas pessoas por e-mail e não demorou para que começasse a receber respostas com histórias memoráveis de mulherzinhas que atazanaram a vida de alguns de meus amigos e parentes.
A mais trágica-cômica foi a que meu pai meu enviou, contando sobre a Dona Lourdinha. Ela foi chefe da minha avó (a baixinha sensacional que eu mencionei no post). Apresento-lhes Dona Lourdinha, by papai:
"ME LEMBRO , COMO HOJE, MAMAE TINHA UMA CHEFE LÁ NO CARTORIO ELEITORAL , DONA LURDINHA, QUE ERA A MEGERA EM PESSOA , O CÃO DE SAIA . VÁRIAS VEZES VI MINHA MAE CHORANDO DE RAIVA PELAS CAVALICES DE DONA LURDINHA. DETALHE , DONA LURDINHA ERA CARECA. USAVA UMA PERUCA HORROROSA , SOLTEIRONA.. AS SOBRANCELOHAS ERAM FEITAS A LÁPIS . DIZEM QUE UMA VEZ SUA PERUCA CAIU EM PLENA REPARTIÇÃO PÚBLICA .... IMAGINE O BABADO. MAS, ACHO QUE A GRANDE MAIORIA DESTAS MULHERZINHAS , PODE PESQUISAR, SOFREM DE UM SÉRIO PROBLEMA . ALGO BEM ANTIGO . FALTA DE SEXO . (...) MAS COMO NÃO TEM LÁ ESTES PREDICATIVOS PARA ALICIAR O CANALHA-DOS SONHOS , EXERCEM O PODER MASSACRANDO VELHINHOS NA FILA DO INSS, FUNCIONÁRIAS LINDAS E CHARMOSAS QUE CHEGARAM -PARA TRABALHAR HÁ POUCOS DIAS ... ETC, ELAS VÃO SEMPRE EXISTIR . .. VÃO FAZER PARTE DOS FOLHETINS E IMAGINÁRIOS. FREUD EXPLICA.... "

Beijos!
Nat

Mulherzinha

Para mulheres que sofrem com mulheres...
Noite passada sonhei com uma pessoa (do gênero feminino) que me causou muita dor-de-cabeça alguns anos atrás. E como nos sonhos experimento sensações bem realistas, acordei sentindo aquela mesma indignação que essa pessoa me causava. E pra parir essa raiva que eu trouxe da noite mal-dormida, resolvi escrever sobre esses tipinhos, que eu chamo de "MULHERZINHA". Vamos a elas...
Primeiro vamos à ressalva, de que não tenho nada contra as colegas de baixa estatura, já que, a começar pela minha avó, temos várias baixinhas adoráveis na minha família. Me sirvo do diminutivo pra me referir a mulheres pequenas nas relações pessoais, que pensam pequeno, que encrencam com bobagem e que precisam de pouco, muito pouco pra tornar sua vida (a nossa) uma amarga batalha de foices.
Então... sem julgar pela estatura da sujeita, ela é um problema na sua vida e uma criadora de problemas nata. A mais típica é encontrada normalmente em ambientes de trabalho, a alguns cargos acima do seu. Mas nada, nada impede que ela seja sua irmã, professora, tia, colega de trabalho, atendente do cartório, vizinha, sogra, ou até mesmo, infelizmente, sua mãe. O que importa é que elas podem estar em qualquer área da sua vida, independente do quão bem ou pessimamente você consiga conviver com ela. Ela tem uma capacidade incrível, uma habilidade maldita de tirar você do sério. E também não importa se ela é um peso- leve ou um peso-pesado. Você olha prá ela e vê um barril de pólvora, um vespeiro.
Então se abre comigo: já passou por uma dessas? Já dependeu dela pra qualquer coisa? Trabalhou com ela? Ih, foi subordinada a ela?Aff! Quem nunca? Eu, mais de uma, a propósito.
Pedir ou negociar qualquer bobagem com ela é tarefa hercúlea. Você ensaia o script de frases de efeito e contra-argumentos, treina o timbre vocal apropriado para cada possível levante, com dois dias de antecedência pelo menos, espera o melhor momento e vai. Se sente como negociando o preço do barril de petróleo no Iraque. Você tenta bravamente não gaguejar e não perder a pose enquanto se desvia das fagulhas, mas não adianta. E sabe porquê? Porquê ela está lá, ocupando o posto de Mulherzinha. E ser Mulherzinha é o papel que ela mais gosta de encenar, é o jogo preferido dela, mesmo que ela tenha outros papéis designados pela vida (de mãe, esposa, filha, etc). Isso não importa. Porque a vida dessa mulher é tão terrivelmente mal-resolvida que ela elege alguém além dela pra pagar o pato, sem que ela sofra as consequências por isso.
E aí que você entra, colega! Sobrou pra você e eu sinto muitíssimo.Ela sabe que você não tem escolha, você vai estar lá, naquele bat-local que você ocupa. Você é a "táuba de tiro ao álvaro" dela.
As melhores, (digo no sentido de mais desenvolvidas na arte da irritação da vida alheia) ou piores, como queira, são as imprevisíveis. Aquelas que, além de tudo, ninguém sabe dizer como será o dia (empresarial, familiar, etc) até que algum bendito corajoso vá lá e faça o teste. Nesses locais você costuma ouvir:
- Alguém já foi falar com a fulana hoje?
- Ihhh, nem tenta. Ou:
- Vai, mas passa vaselina antes (essa pérola eu ouvia de alguns colegas com muito senso de humor, numa cadeia aliment... quer dizer, numa empresa onde trabalhei).
Ah, e tem como piorar ainda! Se você tem alguma coisa que ela não tem (seja um namorado bacana, um cabelo mais sedoso, amigos, reconhecimento e bom humor)... seu caso é grave e eu te desejo paciência em overdose. E em impótese alguma deixe ela perceber se as pessoas da mesma convivência gostarem mais de você, se você estiver de bem com a vida, se estiver feliz porque seu time ganhou, ou porque o consórcio do carro saiu! Não transpareça qualquer tipo de satisfação perto dela! Ela vai se divertir em acabar com seu estado de graça. E evite essa criatura, na medida do possível. Não peça favores, ajuda, conselhos, empréstimo, nem peça pra pegar o papel na impressora. Não tome café nos mesmos horários que ela, não elogie o novo corte de cabelo dela. Não dependa dela, não se enrole nessa jararaca!
E esqueça, de uma vez por todas, de tentar entendê-la ou modificá-la. Isso não é tarefa prá você. Há bons terapeutas no mercado prá isso.
E sei também que nos seus sonhos você a manda prá ponte que partiu, sai pisando fundo e bate a porta e não volta mais. Mas como eu disse, essa sujeita pode estar em várias seções da sua vida. E além disso, nem sempre podemos sair e bater a porta atrás de nós, seja pelo momento que vivemos ou pelo papel que a fulana desempenha em relação a você. Talvez você esteja se perguntando sobre como passei por elas, ou se ainda passo. A verdade é que nunca saí batendo portas, apesar de as ter "peitado" em algumas ocasiões nervosas, mas nunca cheguei "nos finalmentes". Das que pude me esquivar, tentei evitar ao máximo, ignorei (e isso as deixa mais brabas ainda!) e no fim, saí à francesa, quando se tratou de trabalho. Procurei outras oportunidades assim que a situação caminhou para o insuportável, porque sempre achei que... pra tudo tem limite, né? Trabalho nenhum vale a nossa saúde.
E pra driblar todas as sujeitinhas inevitáveis que te rondam, tenho uma sugestão que funciona às vezes: não faça o jogo dela. Não continue a discussão, não comente o disparate que ela disse e em última instância, seja cínica. Mas saia do caminho dela, porque ele é um labirinto pegajoso onde ela vai se divertir se você se perder. Não compre a briga, não dê um centavo, não gaste sua saliva, seus neurônios, sua paz de espírito. Não dê importância a essa sujeita, mas seja firme nesse objetivo, porquê ela o será no dela. Lembra-se? Ser Mulherzinha é o que ela mais gosta de fazer...Então sai da reta, colega!
Ahn, e se você é uma Mulherzinha, sai dessa minha filha, porquê não ser Mulherzinha é o que há!

Sextas-feiras de 2007 greatest hits

Esse 21 de Abril era sexta-feira... deixa eu explicar melhor.
Faz hoje um ano que dei um telefonema e depois tudo mudou.
Eu tinha convites pra uma festa e outras coisinhas foram mais convidativas ainda, durante o tstum tstum da rave... To falando daquele cara, que acordou hoje cedo, fez café, trocou de roupa (deixou seu rastro de bagunça, mas dessa vez passa!) voltou lá na cama, com os fones do iPod pendurados pela gola da blusa e me deu um beijinho antes de ir trabalhar. Esse cara que me encanta todo dia, com seu jeito simples, inteligente, carinhoso, com sua mania de morder meu nariz... Que faz um cafuné delicioso e um risotto sem igual!
E as coisas não mudaram só por causa do telefonema, nem porque, depois de quatro meses nos casamos, (pra surpresa geral da lista de apostas que corria nas mesas de buteco). As coisas mudaram porque naquele dia, tudo que era de um jeito, passou a ser, maravilhosa e surpreendentemente de outro jeito. Porque daquela madrugada em diante eu não quis mais ficar longe dele, nem um dia, tanto antes quanto depois do "sim", sorridente, naquela sexta-feira de Setembro, diante da pergunta daquele juiz e sua faixa verde-amarela, ambos saídos de um baú qualquer. E o quanto eu estou feliz não só pela data, mas por tudo isso, já deu pra perceber.
Mas eu vou contar mais tarde de novo, com outras palavras...
Mas dessa vez, só prá ele!
NAT

Gostei de ler


Cara sabido esse Sêneca...
"Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo o resto não é vida, mas somente tempo." (Sêneca - sobre a brevidade da vida) > Livrinho bom esse...

Gradicida!

Por todo mundo que tá lendo, independente de comentar, gostar ou não.Como se diz no "mineirês": - Muito gradicida!
Vocês estão fazendo com que este "trabalho" seja uma coisa muito mais prazerosa do que imaginei!
Com muito carinho, do outro lado do mundo!
Nat

Duas bandeiras

Aqui em Adelaide tem uma praça que me irrita.
Nela há duas bandeiras - uma da Austrália, outra da comunidade aborígene.
Eu podia parar por aqui e não dizer mais nada.
Mas eu vou me atrever a jogar álcool (líquido, não o de gel) nessa fogueira insandecida.
Primeiro, sugiro ironicamente pensar no que se daria, se isso fosse feito em qualquer praça do Brasil. Pense no pirulito da Praça 7, rodeado por não sei quantas centenas de bandeiras, além da brasileira. Talvez seria algo mais ou menos como:
Representando as descendências - uma para os botocudos, outra para os negros de Angola, outra para os brancos portugueses, outra para os branquíssimos alemães, outra para os os turcos meio beges... Até que alguém diria:
- Pára! Vamos organizar!
-Tá. Idiomas nativos?
- Não, talvez cor de pele mesmo...
- Sim, (lembram-se daqueles questionários ridículos, tipo: "Assinale sua cor de pele"?) começamos pelo brancos, seguindo pelo degradê dos amarelos, depois os pés-na-cozinha, depois os...
- Não! - alguém grita
- Começa pelo marrom-índio, já que eles já estavam aqui quando tudo começou.
- Mas qual tribo? - alguém pergunta
- Não sei, talvez em sentido horário, começando geograficamente pelas tribos do Norte, depois as...
- Não! - outro grita - Em ordem alfabética é melhor, porque aí num discrimina!
- Mas onde é que vamos pôr os caboclos?
...
Onde eu quero chegar com essa sandice... Sobre o quanto é repugnante dividir assim uma nação.
No meu país, os confeccionistas de bandeiras estariam ricos se essa idéia cretina vingasse. Isso porque - aos trancos e barrancos (uh! barrancos lamacentos), nos entendemos uma nação só, farinha do mesmo saco, grãos misturados, sortidos - ainda bem. O que não significa que sejamos muito parecidos fisica ou culturalmente, seja a cor da pele, o santo para o qual cada um reza, o jeito como cozinha o feijão. Mas estamos no mesmo saco... digo, barco, com a mesma bandeira.
Passei a ver a miscigenação, da forma como a conhecemos no Brasil, como um conceito anos-luz à frente do resto do mundo. Sim, ela dá um pé na bunda da xenofobia, do separatismo e de tudo mais que habita esse brejo perigoso. Aqui, as pessoas parecem não saber o que é isso - mistura. Porque eles não estudam isso na escola? Não, mas sim porque ela não aconteceu aqui. Em momento algum europeus e aborígenes se misturaram. Porque aqui existem - ainda - apenas duas cultura distintas e dois 'tipos físicos marcados: australianos (=descendentes diretos de europeus) e aborígenes. Não existe riqueza cultural, diversidade de costumes e crenças. Não houve filhos, religiões, vocabulário, música ou comidas que surgiram da convivência das duas culturas - porque elas não coexistiram ou conviveram a esse ponto. E eu, atrevidamente (de novo), os chamo desafortunados, porque não conhecem esse estado de graça chamado miscigenação. PS: não estou dizendo que a miscigenação ocorreu pacífica e de forma ideal no Brasil. Estou ressaltando os pontos positivos de viver num país de cultura diversificada e pouquíssimo segregada.
A grosso modo, os aborígenes foram mais exterminados do que os índios brasileiros de tal forma que os poucos (muito poucos) que restaram aqui são sustentados pela culpa do governo, em forma de programas de assistência, conhecidos como "reconciliation". Eles recebem recursos e compram comida e bebida, só. A maioria é alcoólatra, obesa e doente. Eles vagam pelas cidades em bandos, como mendigos, não conseguem se estabelecer em local algum (não porque são originalmente nômades), mas porque mal falam ou entendem o inglês e não são bem-vistos pelo "resto"da sociedade. O sentimento de mal-estar é mútuo entre eles, já pude perceber.A sobrevivência deles e de sua cultura depende dos programas de governo que mencionei, mas a forma burra como eles são concebidos aumenta a distância e acentua as diferenças. Ah, sim, mas houve allguns filhos de australianos e aborígenes. E a respeito deles o governo teve uma idéia brilhante: hoje são conhecidos como "geração perdida", que há 30 anos atrás foram arrancados à força de sua família aborígene enquanto crianças, para serem "criados adequadamente" por sua família australiana, para terem oportunidades melhores. Hoje o governo banca outro programa para encontrar suas famílias de origem e tentar curar seus traumas, porque jamais essas crianças se sentiram parte de coisa alguma...
Vi um exemplo também num hospital público, onde a triagem para emergências, no caso de aborígenes é feita num setor separado, longe da triagem "comum". Em volta da sala há várias pinturas aborígenes, cartazes de programas do governo direcionados a eles, etc. Mas só ali, naquele pedacinho do hospital. Sem comentários.Políticas à parte...
É estranho andar nas ruas daqui e perceber o quanto as pessoas ("não-aborígenes") se parecem umas com as outras! Parecem ser, em grande parte, da mesma família. Mesmo traços no rosto, narizes, o azul dos olhos, estatura, cor dos cabelos e pele... Porque até hoje eles não se misturaram com os "locais", o que os faz, a grosso modo, ainda serem os mesmos, geneticamente! Já pensou? E quando se vê um bando de aborígenes pelas ruas, é como enxergar outro mundo, é como predizer que as duas bandeiras (com a melhor das intenções do governo em reconhecer aquele povo também) sempre vão estar lá.
Tentei "figurar"na minha cabeça um Brasil sem samba, broa de fubá, pipoca, "Tássia da Bahia", congado, oratórios, roupa branca no reveillon, mandioca, maracatu, moda de viola... e o que me veio foi algo tão vazio, sem cor e sem sentido quanto aquelas duas bandeiras...
Nat

Demais da conta

Ai se sesse (Zé da Luz)
"Se um dia nós se gostasse

Se um dia nós se queresse
Se nós dois se impariasse
Se juntim nós dois vivesse
Se juntim nós dois morasse
Se juntim nós dois drumisse
Se juntim nós dois morresse
Se pro céu nós assubisse
Mas se porém se acontecesse
De São Pedro não abrir a porta do céu
E fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu com eu insistisse
Pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Das vez que nós dois ficasse
Das vez que nós dois caísse
E o céu, furado, arriasse
E as virge toda fugisse!"

Essa é pérola, pérola! E escolhi pra você que chegou ontem, com presentinhos, cheirinhos, beijinhos e muito carinho. Você, que deixou a cama mais quentinha e meu sono mais gostoso!

Quem se perdeu na tradução e porquê

Vou explicar...Tem esse filme da Sofia Coppola, que originalmente se chama "Lost in Translation". No Brasil teve, pra variar, seu título ridiculamente traduzido prá "Encontros e Desencontros" (aff!).
Num comentário ligeiro, o filme conta sobre um astro cinquentão do cinema americano e uma moça de vinte e poucos anos, ambos hospedados num hotel cinco estrelas em Tóquio (desses bem grandes, frios e impessoais, como só alguns hotéis conseguem ser). Independente dos motivos que os fazem hóspedes daquele lugar, eles também passam por um período de crise, desses típicos, quando a gente fica perguntando: "E aí, e agora?". Além disso, eles também partilham da sensação de deslocamento por experimentar as diferenças daquela cultura tão peculiar, numa cidade, eu diria, no mínimo esmagadora, que parece ser.
Bom... o filme é fantástico e as atuações do Bill Murray e da Scarlet Johanson (sou fã dela mesmo!) são brilhantemente humanas. Recomendo sem pestanejar. A Sofia Coppola também é f... . Mas o que mais me fez "acender a luzinha" no alto dos meus pensamentos foi o título do filme...Aí vai o porquê: Quando a gente está num país cujo idioma não é o nosso de origem (o que eu vivencio há cinco meses), não importa o quanto o nosso "domínio da língua" seja eficiente. Isso porque existe mesmo, como a Srta Coppola sugeriu, algo que se perde na tradução. Minha experiência aqui assina embaixo dessa sugestão. Quando conto um caso qualquer, sinto que tem algo na mensagem que não passou pro lado de lá (de quem ouve) como gostaria, seja em intensidade ou realismo, sei lá. Gasto, desperdiço, na verdade, meus recursos adjetívicos (pff!), metafóricos, gestuais (que acreditem, só o Brasileiro sabe usar com tanta habilidade, falarei sobre isso num outro tópico também)... e nada! Sempre fica aquela maldita sensação de que a coisa não foi bem contada. Eles entendem o caso em si, a idéia geral (nos cursos de inglês dizem ser isso o que importa... Sei não...), mas tem um punhado de coisas que ficam presas no filtro das diferenças culturais, aposto que sim.Você sente como se tivesse falhado, dá aquela pontinha de frustração (tipo: "Pôxa, era um caso interessante, um comentário intrigante...").
Acho que esse era o algo que se perde na tradução. Sensações e significados. No fundo o filme é sobre isso também.Esse blog é sobre isso também... falar e ser entendido, ou pelo menos lido, porquê, se que lê capta a mensagem, gosta ou desgosta, não importa. O legal é ser diminuir essa distância, compartilhar o que se passa na minha cabeça, entre nuvens e caraminholas, sem perdas na tradução.
Beijos e obrigada pela leitura!
Nat