sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Facebook

Minha saída acontecerá em breve.
Abri aquele Facebook agora pela manhã.
E nada de novo havia, como sempre.
Na escala decrescente da qualidade do que se lê e vê naquela página de atualizações: correntes estúpidas, afirmações idiotas, auto-ajuda cibernética, comentários absolutamente desnecessários (o que fiz, comi, vi, o que me impressionou, o que me emputeceu...). E por fim, fotos que se exibem sem pedir licença. Conteúdo que eu não gostaria de ter visto, jamais. Coisas inúteis que se amontoam na minha tela, que nada acrescentam de bom.

E depois se reclama de falta de tempo para o que é importante...

Além do mais, ninguém quer "compartilhar" nada. Só o que querem é um exercício narcisístico de afirmarem o que têm feito, passado, lido, sentido. Só o que esperam é ter seu comentário comentado por alguém. O ápice da solidão e da carência modernas.
Me mantive nessa rede com o propósito de manter contato, principalmente, com quem está longe.
Mas o email ainda existe e persiste, firme e absoluto. Aquele com "De" e "Para", bem definidos, pessoais e intransferíveis.
Essa mecânica atual de "relacionamentos", essa rede "social" não me serve.
E assim será pra mim.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bill, Sue e as malas

Bill e Sue vieram passar 4 dias conosco. Ficariam aqui em Ouro Preto, depois seguiriam para o congresso em Búzios e depois para Galápagos.
Bill é o ex-chefe do Rodrigo, da Austrália. Sue, a esposa dele.
São um "lovely" casal, como diriam por lá. Estão na faixa dos 60 anos; são muito cultos, inteligentes, viajados, pessoas interessantísssimas.
Chegaram no Rio no dia anterior à vinda para cá. Ligaram pra gente do aeroporto, contando que suas malas não tinham vindo. A cia aérea, lá em Sydney, não embarcou as bagagens deles. Colocaram o Rodrigo em contato com a TAM para combinarem de entrega-las em Ouro Preto dali a dois dias. Disseram que tinham algumas coisas nas malinhas de mão.
Menos mau, né? Pelo menos a escova de dentes...
Só conseguia pensar: Que chato isso, viajar por tantas horas e não ter uma roupa pra trocar, não ter suas coisas. Sempre me senti assim em relação ao que carrego comigo em viagens. Ao chegar num lugar estranho, aquilo ali vai te dar um conforto. Ter suas roupas limpas, sua toalha, seus cheiros, seu pijama. A sensação de que está tudo em ordem, enfim.

Organizamos a casa na véspera. Compramos goiabada cascão, doce de leite, castanhas-do-Pará, chás no Mercado Central, queijo minas frescal e outro meia-cura, dois tipos de manga, mamão, abacaxi; e , claro, nos certificamos de que havia pão-de-queijo suficiente (caseiro,tá? Peloamordedeus).

A visita foi maravilhosa. Há dois anos não os via. Que maravilha ter a oportunidade de conversar com eles novamente! Como são cultos; como conhecem o mundo, as coisas, os livros, as plantas (inclusive as do meu quintal!), como se interessam por tudo, querem experimentar tudo, ouvir, ver, conhecer (tinham lido, antes da viagem, a história da vinda de D João com a corte e também sobre Tiradentes).
Não fazem pré-julgamento de nada, como olham as coisas com a mente aberta, como ficam maravilhados com tudo. O mamão era "lovely!", a goiabada "wonderful!", as mangas e seus sabores distintos, "surprising!".
E sempre, sempre, têm uma história interessante pra contar.

Mas as malas não chegaram conforme prometido. A TAM se comprometeu a entregá-las em Búzios.
Mais alguns dias com as mesmas roupas, pensei, que transtorno.
Mas aí eu olhava o Bill, com sua calça cáqui, e sua camisa social com um furo debaixo do braço, descalço; sentado na nossa varanda, observando o quintal e achando lindo poder ver montanhas em volta e ouvir pássaros diferentes. Perguntava sobre a pedra São Tomé que reveste o chão, sobre a construção do vizinho, sobre os portugueses. Eram ele puritanos como os ingleses, no relacionamento com os colonos e escravos?
Comecei a perceber que estava mais preocupada do que eles a respeito das malas.
Enquanto a Sue descansava tranquila no sofá, comentei que se estivesse em seu lugar, estaria realmente chateada por não ter minhas coisas. A resposta foi... "surprising":
"Na verdade... não tinha nada muito importante na mala. Só iria me fazer falta a minha roupa de mergulho. Não queria chegar em Galápagos sem ela, pois a água é muito fria e eu não poderia mergulhar."

Acho que estou refletindo até hoje sobre isso.
O que há de mais importante na mala que a gente carrega? 
Pra que serve a tola sensação de preciosismo, o receio de usar o mesmo par de meias por vários dias?
O que é de fato importante na viagem? O que te veste ou aquilo do que você se despe?



terça-feira, 20 de setembro de 2011

o sistema devia cair

Tudo começou com o ferro de passar e sua garantia extendida.
Logo após me revoltar com a duração curtíssima dos eletrodomésticos, vi-brei quando descobri que ainda estava na garantia.
Levei o ferro na loja.
Não, não é assim. Liga no "Atendimento" (essa palavra me causa petéquias), explica o sisnistro, pega uma senha e volta aqui pra fazermos a troca.
Ferro na mochila, volto com ele pra casa.
30 minutos, três atendentes, cinco repetições do CPF, endereço, estado civil (relevante???) ... e  então consigo uma senha cabalística de 21 DÍGITOS e uma outra de 6.
Pronto, é só ir à loja com esses números e trocar por um ferro novo.
Assim sendo...
Vendedor1: É troca? Fala ali com o gerente.
Gerente: O quê, é so troca? Qualquer vendedor lá embaixo pode fazer isso pra você.
Vendedor2: Num sei fazer isso nesse sistema novo não.
Gerente: Fala ali com a fulana que ela te ajuda.
Fulana solícita, graças aos céus...
Mas o sistema era novo, ninguém sabia direito as telas, onde colocar os números, que números eram aqueles... 
Me distraí com uma das tvs gigantes na parede, que mostrava uma imagem irritantemente nítida de um grupo de garças à beira de um rio no Pantanal. Que inveja das garças. Sem números, protocolos nem ferros de passar.
Vendedor2: vou na outra loja e chamar a Fulaninha pra me ajudar, ela sabe melhor desse sistema.
Li a tela onde elas pelejavam. Só pensava em pegar o ferro do mostruário e falar pra eles se virarem com o resto da burocracia.
Chega a fulaninha, que não acrescenta muito, além da boa vontade em conferir os números e digitá-los novamente.
Vamos ligar no "Atendimento" pra conferir.
Petéquias afloraram vermelhinhas.
Meus dados pessoais e o engodo dos números malditos viajaram kilômetros na fibra ótica e nos cubículos de ao menos meia dúzia de atendentes; além de ocupar consideráveis minutos do dia de vários trabalhadores da loja, que deixavam seus clientes pra desatar aquele nó.
Todos culpavam o sistema novo. Não tiveram treinamento suficiente, estão tendo que aprender na marra, etc.
Pausa.
Já trabalhei com treinamento e suporte de software. Essa conversa é fiadíssima. Fato é que ninguém quer que o sistema mude. Ninguém gosta de ter sua ferramenta de trabalho alterada. E pra fazer pirraça, não prestam atenção ao treinamento, acham que na hora conseguem se virar. Mas na hora h, a culpa é do sistema, do treinamento, da rede... E claro, o anterior, ainda que fosse um lixo, sempre será melhor que o novo. Parecia que eu tava revendo um trailer de um filme antigo.
Voltando
Vem o gerente e faz política: Olha, me desculpe, mas essa é a primeira troca que estamos fazendo com o sistema novo, viu ?!
E nem pra vocês me darem um prêmio por ser a cobaia, pensei comigo...
Vem outro vendedor que desiste e depois outro.
Até que eu ouvi que não ia ter jeito, que o sistema não registrou, que a senha que me deram era inválida e que eu receberia um reembolso da empresa da garantia.
Não não. Não quero reembolso. Tenho o direito de levar um ferro novo.
Tensão...
A fulana respira fundo. Vamos tentar mais uma vez.
Tá, mas deixe eu falar com a atendente. Peguei o fone.
Quero a senha, está faltando uma senha aqui. A que me deram mais cedo tava errada.
Ah, senha? Sim, anote aí.
Não, eu não havia trocado 3 por 6. Era um número completamente diferente.
A fulana comemora radiante: Ah! Deu certo! Era a senha! ...
E me dá um abraço!
Ah, Natália, que bom! Coitada de você, esperando por tanto tempo!
Meu sorriso de consumidora surpresa e aliviada...
Mais uma peleja de 15 minutos pra registrar que fiz a troca. E mais um vendedor pra ajudar com as medonhas telas azuis. Sim, pois o que atrapalhava agora, descobrimos (comigo ajudando), era que o nome da rua é Ipê e não Ype. Aí travava tudo.
Devia ter explicado que era nome de árvore e não de detergente?

Olha, podemos repensar esses sistemas e voltar a anotar no papel de pão?
É tão frustrante toda a complicação que as facilidades modernas trouxeram às nossas vidas...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

se existe um fim

Olhei pela janela do quarto andar ontem e me senti mal.
O céu, famoso por abrigar tantas coisas, de deuses a satélites, mostrava algo medonho.
Aconteceu.
Não era a cauda flamejante de um meteoro, nem luzes de discos voadores, nem anjos com suas trombetas e bundas de fora, nem aviões, nem o exército, nem o salvador, nem o ditador.
Se há um fim, me certifico de que será a simples impossibilidade biológica de existir.
O azul tinha virado cinza.
Meu deus, aconteceu.
O ar virou veneno.