domingo, 28 de outubro de 2012

a beleza e seus bisturis

Não sou de levantar bandeiras e me proclamar contra ou a favor de determinadas polêmicas. Acredito em liberdade e que cada um é capaz de julgar aquilo que lhe faz ou fará bem. Pronto. Sou a favor da responsabilidade por si prórpio e acredito mesmo que não cabe ao Estado ou a quem for ditar as regras sobre o corpo alheio. 
Falo de plásticas, mas poderia ser também sobre aborto, sobre o nível de açúcar nos refrigerantes, as propagandas de junk food, os remédios pra emagrecer, Viagra, castração feminina na África, mudança de sexo, eutanásia, legalização de entorpecentes... 
Acho que a proibição/condenação de qualquer prática que atente (apenas) à integridade física do indivíduo é de responsabilidade dele próprio, e, portanto, não é assunto pra ser debatido por ninguém mais. O corpo é dele, bastando isso como meu argumento.
Exemplifico.
Meu pai fuma há milênios, minha sogra idem. Minha mãe não pratica atividades físicas, meus avós idem. Vivem fustigados pelos fantasmas do colesterol e por todas as implicações do sedentarismo e dos maus hábitos. Me preocupam, mas não me mobilizam as causas de cada um deles. Não é falta de amor, acho que é excesso de respeito. Como tudo, só me pronuncio se for consultada. Não vou além, não importuno, não faço ( já fiz) meus discursos. Paro por aí. 
E acho que o mundo, às vezes, também devia parar de meter o nariz nas escolhas alheias. O ranço do patrulhamento ideológico anda solto e, isso sim, não me escapa à crítica.
Digo tudo isso porque me vi intrigada com toda a polêmica em torno das "plásticas íntimas". É fácil demais julgar, ó céus, como é fácil! Quando o assunto é intervenção cirúrgica estética torço mesmo o nariz, em função da motivação da maioria dessas práticas. Evoluímos desde o espartilho? Nada. Quanta gente (homens inclusive) não vivem bem em seus próprios corpos se não se parecerem com os das revistas? E esse "viver bem, feliz com o que vê no espelho", justifica a agressão do bisturi? Diria que não. Mas não nasci com a cara torta, nem com um peito maior que outro, nem amargo as "sobras de pele" devido a um emagrecimento drástico. Não estou na pele dessas pessoas, não calço o sapato delas, logo, não sinto o aperto que elas sentem na caminhada. Porque diabos deveria julgá-las? O "eu não faria" é traiçoeiro demais. Não se sabe o dia de amanhã. Viveria eu bem com peitos no umbigo? Com a cara marcada por algum acidente? Não é possível saber. Taí a armadilha.
Eu não sei como se sente uma mulher com uma deformação na genitália, não faço idéia. E o quão marcante é a deformação pra ela, física ou psicologicamente? Só ela pra dizer. Por que então as periquitas felizes querem condenar a outra que não teve a mesma sorte delas? Ora, faça-me o favor. E as outras periquitas, igualmente prejudicadas, que não concordam com o procedimento?
Fala-se demais, mas considera-se de menos. Esse é um grande mal da humanidade.
Quando, a cada dois meses, encontro-me em frente ao espelho, besuntando a cabeleira de pigmentos (banhados em centenas de compostos potencialmente cancerígenos), porque não sei conviver com a alvice de alguns fios rebeldes, não me acho diferente das índias com argolas que esticam o pescoço. Não vejo diferença entre a mulher africana que aceita ter o seio diminuído com madeira quente e aquela que fica semanas convalescendo em função da violência de uma lipo. Me sinto a própria Yanomâmi pintando o corpo quando sento à penteadeira para me maquiar. 
A beleza tem conceitos e aceitações que não passam por sentenças à exceção da própria que a governa. 
É o que eu acho mesmo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

sobre a ordem e os paradigmas femininos de ordem

Mulher não tem jeito. Defendi outro dia, na terapia, que as mulherzices saem no estrógeno. Os microgramas do hormônio ganham a corrente sanguínea e plim! Lá estão elas! "Não adianta, a gente tem essa mania ridícula de tomar tudo pra gente e sofrer horrores!', bradei indignada.
Veja bem se não tenho razão.
A mulher tem uma coisa de tomar pra si o cuidado com aquilo que a rodeia. A casa, o local de trabalho, o carro, os outros, enfim. De alguma maneira ela reflete em si mesma o estado das coisas e, por isso, cuida do que é externo como se lhe pertencesse. E, assim, o que a rodeia acaba, para ela e para os outros, espelhando o estado de espírito dela mesma. E... coitada, ó deus, coitada!
Vejo isso muito na relação da mulher com a ordem da casa, e outras questões domésticas, enquanto questões complementares à figura feminina. Não apenas a  personalidade, que obviamente determina como ela se relaciona com a própria casa, mais que isso, as variações do humor influem diretamente em como se dá essa relação em diferentes momentos.
Exemplo pessoal.
Não sou muito exigente com arrumação, até porque estou sem faxineira. Mas atualmente tenho percebido, provavelmente em função da indeterminação do momento pelo qual passo, como tenho sido mais rigorosa na arrumação. Faço as tarefas de acordo com meu tempo e humor, como é de praxe, mas atualmente tenho me esforçado além do normal ao colocar ordem nas coisas. Elejo a tarefa e me embrenho nela com determinação nipônica. Sapateiras arrumadíssimas, sapatos de couro lustradíssimos e devidamente hidratados com óleo mineral, gavetas e prateleira de roupas militarmente organizadas e perfumadas, cães cheirosíssimos, bancada da cozinha reluzente.
Percebi também que adotei com meu corpo tal fetiche pela ordem. Minhas unhas nunca andaram tão nos trinques, nunca comprei tanto esmalte; cabelo hidratado, pele idem, depilação britanicamente executada, academia em dia, sobrancelhas milimetricamente feitas.
É isso, compensação. A ordem aparente compensando a desordem interior. Depois acham ruim quando dizem que mulher é biruta.
Tenho uma amiga que acha que uma boa faxina (se é que é possível uma faxina ser coisa boa) é excelente pra descarregar, desestressar. Minha sogra outro dia esfregava um pano de prato, mas parecia um gladiador com o leão. Minha vó, na minha infância, me lembro, sempre reclamava dos filhos distantes e da preguiça do meu avô enquanto cozinhava. Minha mãe e uma outra amiga arrumam a casa no dia anterior à ida da faxineira.
Birutíssimas gente!
Mas enfim. Quando as coisas começarem a dar certo, acho que vou dar uma relaxada, no bom sentido.