sábado, 18 de agosto de 2012

indigesto

Tenho dificuldade em aceitar muitas coisas, acho que todos nós nos inquietamos com o que nos parece torto.
Mas muita coisa anda parecendo torta aqui nesse bananal. E logo, eu ando tendo muita dificuldade por aqui. (Bananal é a designação pra terra brasilis, de acordo com uma prima que há mais de vinte anos vive, feliz, no exterior).
O bananal tá difícil, muito difícil.
Difícil de aceitar, difícil de operar. 
Ontem tive ganas de não me meter a besta mais, e deixar de lado essa bobagem de assistir ao noticiário e consultar jornais várias vezes ao dia. Refleti e ainda estou refletindo sobre ônus e bônus de me manter informada / alienada. Só cheguei à conclusão de que ando sim, me mantendo bem chateada. 
Doses diárias de chateação? Aperte o botão.Tem pra todos os paladares, com ampla gama de amargos, passados, mofados e azedos. Difícil de engolir. Azias? Na certa.
Tudo errado, regado ao molho da infeliz normalidade. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"Todo roubo e toda a indiferença"

Semana passada foi-se embora um cordão de ouro com um coração que ganhei de paps quando fiz quize anos.
Coisa que eu gosto (ou gostava, ainda não sei) é andar na rua.
Sentir o vento, ver as pessoas, as árvores, os passarinhos, ver a vida acontecer. Na rua a gente sente a vibe do mundo, qualquer que seja ele. A gente é livre quando caminha. Imprime ao caminho nosso ritmo, vê com os olhos que te habitam naquela hora, escuta os ruídos, as gentes, presencia os movimentos à nossa maneira. Quando caminhamos pela rua estamos no mundo, não no nosso, mas no mundo que está aí pra nós, com suas mudanças ou suas permanências. Enfim, adoro caminhar. É o momento em que mais reflito sobre o que for que estiver me apoquentando, e, consequentemente, também elaboro perguntas e respostas.
Lindo, até então.
Nunca tinha sido roubada. Uma vez tive a mochila da Company roubada, por tê-la deixado no chão do Fiat 147 que mamãe tinha. Fiquei muito triste, mas não vi a cara do ladrão, tive essa sorte.
Mas dessa vez, o roubo foi cara a cara.
Uma voz na minha cabeça me disse (mesmo) que eu estava distraída. O vai e vem da região hospitalar me absorveu muito e também o sujeito estranho que estava à minha frente, com uma tornozeleira de presidiário (nunca tinha visto uma). As pessoas se desviavam dele, que andava a esmo, aparentemente se divertindo com as reações dos transeuntes a sua estranheza. Ele ficou prá trás, tomei o cuidado de apertar as passadas. Senti então uma mão no meu ombro. Esquisito. Não parecia ser alguém conhecido, pois era um jeito estranho de tocar no ombro. Quando me virei, vi um rosto masculino bem perto e senti seu dedo indicador na lateral do meu pescoço. Deslizou até encontrar a correntinha, que arrebentou facilmente. Com a outra mão, a aparou e colocou rapídamente no bolso da calça, se esqueirou entre mim e a banca de jornais, atravessou a rua como uma enguia por entre os carros e subiu correndo a avenida transversal, olhando pra trás.
Ele ouviu o "filhodaputa" que soltei, quando senti que aquele presente, caríssimo pra mim, se desprendeu irremediavelmente para sempre de meu pescoço. Não era o rapaz da tornozeleira. Era um rapaz comum, vestido como um jovem qualquer.
Chamei a polícia, que me atendeu no que pôde, mas que infelizmente não será capaz de reaver meu presente, quiçá meu gosto por caminhar pela rua.
No boletim de ocorrência o campo "motivação do delito" foi preenchido com a vaga explicação: "dificuldade financeira/ cobiça".
Olha, seu moço, é muito mais. Se tivéssemos um campo desse pra preenchermos com  as motivações para todos os delitos dos quais o infeliz cidadão brasileiro é vítima toda hora, todo dia, teríamos longos textos anexos.
Ao final destes, precisaríamos sempre citar o absurdo da lógica perversa de que "temos que nos adaptar e nos acostumar", porque ser desrespeitado é regra, não exceção.
Então dá licença, tô me retirando, embora o "retirar" se dê em parte apenas, pois não consigo me excluir totalmente dessa enganação injusta que é o Brasil. Se eu pudesse me retirar pra outra parte do mundo, como outrora fiz, picava a mula loguinho, pra não voltar nunca mais.
Tal qual Carlota Joaquina, batia os sapatos e não levava nem um pozinho desse solo amargo.

Título retirado da canção "Perfeição" - Legião Urbana, vale lemrar.

domingo, 12 de agosto de 2012

como aconselhar a um amigo

Ando bem requisitada nessa área.
De desilusões, passando por recomeços, a términos e engodos afins. Tenho discursado a respeito de tanta coisa em ouvidos atentos e ansiosos por respostas.
Meus caríssimos, atualmente, preenchem um amplo e variado espectro no que toca às querelas do romance, da aventura, das burrices, dos altos investimentos, dos comodismos, das construções e desconstruções, questionamentos então nem se fala!... Ufa.
Mas sempre me pergunto se não estaria, eu mesma, borrachando, sabe?
Porque conselheiros não ganham ISO9000 e nem são site de compras, em que os clientes satisfeitos vão lá e te dão estrelinhas, com um feedback para os próximos que vierem.
Então? Como garantir a seus amigos o melhor dos conselhos? Isso sem precisar que assinem um termo que te libere de ser reponsabilizado por eventuais fracassos?
Fato é que só aconselho se for solicitada (já falei aqui e repito: conselho que não é solicitado é intromissão!). E ponto.
Meu estilo de consultoria emocional é, de fato, diferente. Não me atrevo a lançar um: "Eu se fosse você faria xyz...". Ja-mais. A não ser, claro, se confrontada com a pergunta direta: "O que você faria no meu lugar?"
Gosto de ouvir, costumo falar pouco, e assim sendo, entendo o pedido pelo aconselhamento como uma chance de desabafo mesmo. E quantas vezes o desabafo, por si só, faz maravilhas? É interessante notar, quando a pessoa, ao verbalizar a querela acaba atentando para outros aspectos até então obscuros? Elas ouvindo a si mesmas se confrontam melhor com a coisa em questão.
E é magnífica a oportunidade de ouvir, o que quer que seja. Reconheço com grande carinho os momentos em que eles pedem emprestados minha escuta e minha atenção.
Então talvez eu até me saia bem nas aconselhanças. Me ocorreu agora que minha mãe conta que o vô Juquinha dizia que "Deus te deu dois ouvidos e uma boca pra escutar mais do que falar."
Faz sentido.
Mas coma verduras, sempre.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

antes disso...

Que preguiça o tal de Facebook...
Que preguiça da "vida" virtual.
É tudo tão vazio... a tela cheia de imagens, imagens, imagens... E só.
Sou chata mesmo. Nada melhor que a vida lá fora.
E tenho dito.
Ô se tenho.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

por causa da mulher

Peguei as propostas de redação da semana pra fazer em casa. A-do-rei quando vi que uma delas tinha um tema que já estava preparadinho pra virar post aqui: O papel da mulher no mundo contemporâneo.
Difícil é passar na peneira uma farinha tão fina. E fazer virar vinte e poucas linhas manuscritas.
E pena não poder escancarar a opinião, coisa cabível aqui, apenas (sera?).
Voltarei em breve, dizendo que... elas também são machistas.
Esse pano ainda vai dar manga.
Inté.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

o apito

Passados os dias que amanheceram e eu nao (hoje foi o teclado quem nao amanheceu, sorry...).
Enfim, findados os dias do incomodo. Nada resolvido, mas ainda assim, algo se resolveu. E miraculosamente sem terapia, agendada pra amanha, pois nao consegui matar as aulas de segunda pra chegar la.
Sei nao. Mas tem um aprendizado.
Escrevi no caderninho, segunda a noite, que parecia que tinha um apito de locomotiva na minha cabeca. Ja tnha ouvido aquele apito antes. A epopeia abaixo explicaria a imagem mental que fiz do aprendizado, e registrei assim (dois pontos)

Ela estava de pe na estacao de trem e ouviu o apito soar estridentemente. Fez que ia sair correndo com a mala na mao, sobressaltada, quando um senhor, conhecido, mas nao sabia de onde, se levantou de um banco banco e se colocou a sua frente (dois pontos)
- Minha filha, nao corra, tenha calma.
- Mas o apito... o trem... a viagem... o tempo!
(A ansia!)
- Voce diz que ouve este apito, e talvez ouca mesmo, repetitivo, nitido, alto, incomodo.
- Sim, eu ouco! Poisintao!
- Lembre-se de quantas vezes, ao menor ruido desse apito voce saiu desesperada pra pular no vagao. E o vagao nem era o seu! Outras em que voce nao terminou de arrumar as malas mas assim mesmo foi, amargando a falta de coisas que largou pra tras. Em outras, caiu, machucou, sua mala abriu e voce ficou ali, esparramada no chao da estacao enquanto o trem partia! Certa feita, era o apito do trem errado, antes do seu, mas, temendo ficar por aqui, temendo o que ia lhe acontecer, temendo a espera, voce foi. E chegou em outro destino. E assim tem sido!
(Os erros!)
- Mas, o tempo! O apito!
- Minha filha, quando e que voce vai aprender...
- Agora seria bom... estou cansada disso! Veja os meus joelhos ralados! Veja os meus farrapos, minha mala por demais pesada! Quantos bilhetes ja comprei sem que tivesse chegado ao meu destino!
(Mas, e o apito!)
- Sente-se aqui, se recomponha. Ouca atentamente que nao ha apito. Apenas o som das pessoas subindo e descendo dos vagoes, da estacao, o barulho das locomotivas que chegam e saem. Nao ha apito.
- Sim, nao ha.
- Quando o apito do seu trem soar, ai sim, voce ira ouvi-lo. Entao pare e ouca, atentamente. Voce nao ira perder o trem por esperar, mas ira perde-lo se se precipitar novamente.

E assim foi. E assim fui.
O tempo e precioso pra gente ficar sempre repetindo as mesmas bobagens. Mas parece que e preciso reconhecer nossa infinita capacidade de repeti-las e se dar conta disso. E algo dificil e desconfortavel de realizar.
Vou ali correr, depois almocar, depois aula. Ate o dia em que o pito soar.