domingo, 9 de dezembro de 2012

nós e a elétrica energia

Quantas gerações já se contam desde a incorporação da energia elétrica no nosso cotidiano? 
Me peguei pensando nisso ontem, por causa do temporal que me cortou a luz por horas durante toda a noite. Todos nós aqui hoje conhecemos, superficialmente, através de relatos históricos, filmes e tals, como era a vida sem lâmpadas, fios e controles remotos. Mas desconhecemos completamente como se daria a vida de hoje sem eles. Entende o ponto? O que viraria nosso dia a dia e como iríamos nos virar sem essa parafernália.
Comecemos pelo ato de conservar alimentos refrigerando-os. Acabaria-se. Reflita que isso seria como a reinvenção da roda. Depois as telecomunicações, os entretenimentos, os transportes, os hábitos, os horários, as distâncias, a segurança, a saúde, o conforto dos banhos quentes e da refrigeração do ar. Quanto deveria ser repensado? Tudo. Maluco, né? 
O mundo como conhecemos deveria ser totalmente reestruturado se o apagão da eletricidade viesse pra ficar. E daríamos adeus à "Era da eletricidade", como demos à da Pedra Lascada.
Mas não creio que tal coisa aconteça, embora não estejamos livres de desastres pontuais.
Pra minha sorte eu tinha acabado um banho ótimo, durante o qual ouvia a uma fita (isso, fita K7, sou maluca) do Oasis, que gravei de um grande amigo em 1998. Já me enxugava quando tudo se apagou.  E além da chuva, do vento e dos trovões não ouvi mais nada. Além do breu que nos invade a visão, o silêncio, em virtude da ausência da vibração de qualquer motor, é quase uma experiência bizarra. Não que seja ruim. Acho lindo. Mas o silêncio ortodoxo é um ente de outro mundo pra nós. Porque o nosso mundo é barulhento até falar que chega. Ainda que você decida que vai ficar em silêncio, lá no fundo, no andar de baixo, na cozinha, no vizinho ao lado... vai haver um bzzzzz, ou brrrr, ou tectectec, ou nnnnnnnnnn. Não tem jeito com isso, não dá pra brincar de vaca amarela com os milhares de motores que nos mantém vivos sem que a gente nem perceba. 
Mas sempre achei lindo o silêncio e o escuro, a luz das velas nos guiando pela casa, a aura arcaica que emerge junto com a pane elétrica. Desde criança, sempre gostei desses momentos.
Eu e os cães nos recolhemos à sala, iluminada com a montoeira de velas que tenho, em pitorescos castiçais e garrafas de vinho respingadas de cera. Abri um livro - "História da Vida Privada no Brasil - Cotidiano e Vida Privada na América Portuguesa", meu favorito da série de 4 volumes.
E pronto, éramos só nós, os pingos de chuva no mato lá fora. Barulho nenhum mais. Horas sublimes, de reordenação dos sentidos em torno de uma nova realidade.
Exceto o barulho dentro de nós. Esse parece que nunca cessa.

domingo, 28 de outubro de 2012

a beleza e seus bisturis

Não sou de levantar bandeiras e me proclamar contra ou a favor de determinadas polêmicas. Acredito em liberdade e que cada um é capaz de julgar aquilo que lhe faz ou fará bem. Pronto. Sou a favor da responsabilidade por si prórpio e acredito mesmo que não cabe ao Estado ou a quem for ditar as regras sobre o corpo alheio. 
Falo de plásticas, mas poderia ser também sobre aborto, sobre o nível de açúcar nos refrigerantes, as propagandas de junk food, os remédios pra emagrecer, Viagra, castração feminina na África, mudança de sexo, eutanásia, legalização de entorpecentes... 
Acho que a proibição/condenação de qualquer prática que atente (apenas) à integridade física do indivíduo é de responsabilidade dele próprio, e, portanto, não é assunto pra ser debatido por ninguém mais. O corpo é dele, bastando isso como meu argumento.
Exemplifico.
Meu pai fuma há milênios, minha sogra idem. Minha mãe não pratica atividades físicas, meus avós idem. Vivem fustigados pelos fantasmas do colesterol e por todas as implicações do sedentarismo e dos maus hábitos. Me preocupam, mas não me mobilizam as causas de cada um deles. Não é falta de amor, acho que é excesso de respeito. Como tudo, só me pronuncio se for consultada. Não vou além, não importuno, não faço ( já fiz) meus discursos. Paro por aí. 
E acho que o mundo, às vezes, também devia parar de meter o nariz nas escolhas alheias. O ranço do patrulhamento ideológico anda solto e, isso sim, não me escapa à crítica.
Digo tudo isso porque me vi intrigada com toda a polêmica em torno das "plásticas íntimas". É fácil demais julgar, ó céus, como é fácil! Quando o assunto é intervenção cirúrgica estética torço mesmo o nariz, em função da motivação da maioria dessas práticas. Evoluímos desde o espartilho? Nada. Quanta gente (homens inclusive) não vivem bem em seus próprios corpos se não se parecerem com os das revistas? E esse "viver bem, feliz com o que vê no espelho", justifica a agressão do bisturi? Diria que não. Mas não nasci com a cara torta, nem com um peito maior que outro, nem amargo as "sobras de pele" devido a um emagrecimento drástico. Não estou na pele dessas pessoas, não calço o sapato delas, logo, não sinto o aperto que elas sentem na caminhada. Porque diabos deveria julgá-las? O "eu não faria" é traiçoeiro demais. Não se sabe o dia de amanhã. Viveria eu bem com peitos no umbigo? Com a cara marcada por algum acidente? Não é possível saber. Taí a armadilha.
Eu não sei como se sente uma mulher com uma deformação na genitália, não faço idéia. E o quão marcante é a deformação pra ela, física ou psicologicamente? Só ela pra dizer. Por que então as periquitas felizes querem condenar a outra que não teve a mesma sorte delas? Ora, faça-me o favor. E as outras periquitas, igualmente prejudicadas, que não concordam com o procedimento?
Fala-se demais, mas considera-se de menos. Esse é um grande mal da humanidade.
Quando, a cada dois meses, encontro-me em frente ao espelho, besuntando a cabeleira de pigmentos (banhados em centenas de compostos potencialmente cancerígenos), porque não sei conviver com a alvice de alguns fios rebeldes, não me acho diferente das índias com argolas que esticam o pescoço. Não vejo diferença entre a mulher africana que aceita ter o seio diminuído com madeira quente e aquela que fica semanas convalescendo em função da violência de uma lipo. Me sinto a própria Yanomâmi pintando o corpo quando sento à penteadeira para me maquiar. 
A beleza tem conceitos e aceitações que não passam por sentenças à exceção da própria que a governa. 
É o que eu acho mesmo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

sobre a ordem e os paradigmas femininos de ordem

Mulher não tem jeito. Defendi outro dia, na terapia, que as mulherzices saem no estrógeno. Os microgramas do hormônio ganham a corrente sanguínea e plim! Lá estão elas! "Não adianta, a gente tem essa mania ridícula de tomar tudo pra gente e sofrer horrores!', bradei indignada.
Veja bem se não tenho razão.
A mulher tem uma coisa de tomar pra si o cuidado com aquilo que a rodeia. A casa, o local de trabalho, o carro, os outros, enfim. De alguma maneira ela reflete em si mesma o estado das coisas e, por isso, cuida do que é externo como se lhe pertencesse. E, assim, o que a rodeia acaba, para ela e para os outros, espelhando o estado de espírito dela mesma. E... coitada, ó deus, coitada!
Vejo isso muito na relação da mulher com a ordem da casa, e outras questões domésticas, enquanto questões complementares à figura feminina. Não apenas a  personalidade, que obviamente determina como ela se relaciona com a própria casa, mais que isso, as variações do humor influem diretamente em como se dá essa relação em diferentes momentos.
Exemplo pessoal.
Não sou muito exigente com arrumação, até porque estou sem faxineira. Mas atualmente tenho percebido, provavelmente em função da indeterminação do momento pelo qual passo, como tenho sido mais rigorosa na arrumação. Faço as tarefas de acordo com meu tempo e humor, como é de praxe, mas atualmente tenho me esforçado além do normal ao colocar ordem nas coisas. Elejo a tarefa e me embrenho nela com determinação nipônica. Sapateiras arrumadíssimas, sapatos de couro lustradíssimos e devidamente hidratados com óleo mineral, gavetas e prateleira de roupas militarmente organizadas e perfumadas, cães cheirosíssimos, bancada da cozinha reluzente.
Percebi também que adotei com meu corpo tal fetiche pela ordem. Minhas unhas nunca andaram tão nos trinques, nunca comprei tanto esmalte; cabelo hidratado, pele idem, depilação britanicamente executada, academia em dia, sobrancelhas milimetricamente feitas.
É isso, compensação. A ordem aparente compensando a desordem interior. Depois acham ruim quando dizem que mulher é biruta.
Tenho uma amiga que acha que uma boa faxina (se é que é possível uma faxina ser coisa boa) é excelente pra descarregar, desestressar. Minha sogra outro dia esfregava um pano de prato, mas parecia um gladiador com o leão. Minha vó, na minha infância, me lembro, sempre reclamava dos filhos distantes e da preguiça do meu avô enquanto cozinhava. Minha mãe e uma outra amiga arrumam a casa no dia anterior à ida da faxineira.
Birutíssimas gente!
Mas enfim. Quando as coisas começarem a dar certo, acho que vou dar uma relaxada, no bom sentido.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

toda nudez será explorada

A condessa e seus peitos. Livres na belíssima Riviera Francesa.
E daí, minha gente, e daí? Eram só peitos, felizes, a desfrutar do sol do Mediterrâneo... Mais um par dentre muitos outros que certamente já deram o ar da graça por lá.
Mas tá. Entendo. Não vamos ser simplistas. Gente é bicho muito estranho.
Dependendo da dona dos peitos, não sao só peitos, óbeveo. Eram o tilintar de milhares de euros, certeiros, nas contas bancárias dos fotógrafos e das revistinhas fofocóides. Eram os olhos de mihões de curiosos querendo ver os peitos reais. 
E não adianta gritar "deixem a moça em paz". Desde a falácia do Direito Divino dos Reis a nobreza já era alvo da mais sórdida curiosidade pública. Duvido que Marie Antoinette e Louis XVI não eram espiados em suas disputadas esbórnias. E por quê não seria assim agora, época em que, conforme profetizou Andy Warhol, todos desfrutamos de alguns minutinhos de fama, graças à parafernália fotográfica que insistimos em carregar pra todo canto? Enfim, se nenhum mortal tem sossego, se não podemos respirar sem que venha um mala sacando a maquininha por perto, por que haveria de ter a condessa alguma paz?
"Ah, que não ficasse de peito de fora então". Pô, peraí! Isso é sacanagem! Eva já morreu faz tempo! Só ela mesmo pra nascer com as malditas folhinhas de parreira costuradas nas partes pudendas. Que chatice, hein? Cada uma (e cada um) que faça o que quiser com seus respectivos peitos e adjacências!
Outra cafonice absurda é partir do pressuposto de que em se tratando de figura pública, a mídia toma pra si o poder de ser relatora do caso, conclamando o público a professar suas opiniões e proferir julgamentos. Ô saco! 
O que eu quero dizer é que nada tenho (temos) a ver com os peitos da condessa. Acho uma falta de respeito tosca publicar esse tipo de coisa sobre as particularidades alheias. Acho podre ficar que nem urubu, catando na net detalhes comezinhos da vida de gente famosa.
E tem mais! Tem que ter peito mesmo pra colocar os peitos de fora assim! Uma coisa é posar, fazer ensaio, contar com os fotoshóps da vida, com produtores, luzes, truques e gigabytes de sobra pra que tudo fique perfeitamente publicável. Agora, pôr os peitos à prova da cruel luz do meio-dia, para o próprio deleite... é pra poucas, viu? É a comunhão máxima de uma mulher com o próprio corpo. A moça deu, mesmo sem saber, um tapinha de luvas à lá realeza, em qualquer plyboyzete siliconada, ávida por aclamação pública.
E que fique registrado: não vi os peitos, só ouvi as noticias sobre eles.

domingo, 16 de setembro de 2012

as dependências de empregada

Assisti duas vezes a "The Help"(em português: Histórias Cruzadas). Fiquei duplamente maravilhada. Primeiro com a história em si, dada a coragem da moça que culminou na publicação do bombástico livro; segundo, obviamente, com a maestria das atrizes escaladas.

Enfim, óbvio que ficou impossível não traçar paralelos com nossa realidade doméstica pós-escravista pseudo igualitária. Veja bem, não é uma questão do racismo escancarado, mas do racismo impregnado e mimetizado nas pequenas ações do nosso cotidiano, desde que a primeira escrava adentrou a primeira casa grande brasileira. Falar sobre esse racismo é incômodo a muitos de nossos compatriotas.
Fiquei perplexa ao analisar o paradoxal relacionamento que se estabeleceu entre patrões e suas escravas (vou me ater ao sexo feminino). Paralelamente à aversão européia ao negro africano, baseada em diferenças "raciais", convivia uma relação íntima e estreita de contemplação de necessidades diárias por parte delas. É absurda demais a relação. Elas eram instrumentos de conveniência que partilhavam de muito da vida doméstica da casa grande - eram amas de leite, lavavam as roupas, faziam a comida, ajudavam as senhoras a se vestir, a parir, a convalescer. 
O absurdo é esse. Essas mulheres carregavam um duplo estigma - eram segregadas por serem escravas, e, por serem escravas, eram parte imprescindível da vida de seus opressores, daqueles que as colocaram nessa condição. 

Desprezíveis mas imprescindíveis? Não é intrigante ver por esse aspecto? 
A fala de uma das personagens que me despertou esse questionamento e que me fez trazê-lo para a atualidade foi: "Separated, but equal", que justificava a construção de um banheiro à parte para as empregadas da casa, do lado de fora da mesma. A personagem ressaltava tal necessidade baseada no "fato" de que os negros possuíam doenças diferentes dos brancos, tornando necessária tal separação a fim de proteger a saúde da família. 
Taí o incômodo que me causou -  lembrar das tenebrosas "dependências de empregada". Não me venha com "é diferente", porque não é não.  Fui criada em famílias nas quais muitos se diziam não ser racistas, mas ambas impregnadas do mesmo racismo sutil a que me refiro. 
Fato. As empregadas não comem na mesa conosco, possuem banheiros separados e geralmente utilizam talheres, pratos e copos separados dos de uso da família. 
Me lembro do banheiro de empregada do apartamento antigo de classe média onde nasci: um cubículo com o chuveiro quase em cima do vaso. Pensei, claro, na persistência abominável dessas "dependências", mesmo nos projetos mais modernos de casas e aptos. Suas camas se espremem em quartinhos onde elas dividem seu sono com mantimentos e quinquilharias. Muitos "elevadores de serviço" ainda assombram prédios e ocupam espaço justificado na mentalidade de muita gente rude. 
Me lembrei, entristecida, de uma ocasião. Eu era criança e minha avó, comovida pelo calor que fritava as formiguinhas que varriam a rua em frente à casa, resolveu levar água gelada pra elas. A ajudei a levar as garrafas e carregar os copos. Elas, sedentas, beberam agradecidas toda água que levamos. Quando retornamos à cozinha, coloquei os copos na pia para lavá-los, mas fui interrompida por minha avó : "Espera aí. Antes de lavar tem que jogar uma água quente antes." Ficou na minha cabeça a cena da água fervendo saindo do bule e escaldando os copos. E nunca concordei com aquela atitude, assim como o filme me fez lembrar que nunca aceitei também o banheiro, o elevador, o quarto separado.
Não tem água quente que lave esses conceitos seculares.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sobre mulheres e liberdades

Sutiãs queimados e cá estamos nós, mais enlouquecidas do que nunca.
Numa das abas do meu navegador está a gloriosa Julia Petit, com preciosíssimas dicas de maquiagem e cabelo. Na outra, o jornal do dia. Na terceira, um blog de literatura. Na minha lista aqui à direita temos de Arte a Unhas, e pronto. Vide o mesmo ecletismo da minha estante de livros, minha gaveta de cds, meus elepês e o cesto de revistas do banheiro. Medicina e piano ainda farão parte da minha vida. A miscelânea sou eu.
Só não me venha com bebês. Já disse e repito.
Fui outro dia compelida a matutar sobre esse assunto por ocasião de uma redação no cursinho, que pedia pra abordar a questão da sobrecarga feminina. Esse papo de "ter que ser" mãe, esposa, filha, amante, amiga, meretriz, enfermeira, profissional, e ainda por cima, belíssima se for possível. Façam-me o favor. Esse papo não cola não. 
Voltando aos sutiãs... Livres? Quem, filha, onde??? 
Vamos estudar então, vamos trabalhar, vamos empinar os narizes e ocupar tudo! E fomos, e vamos. Para o alto e avante. Coitadas...
O negócio ficou feio quando não deu mais pra recusar algum papel, sob pena de ser esculachada, tachada de milhares de coisas pejorativas.
O anticoncepcional, por exemplo, permitiu às coitadas postergarem um pouco a maternidade, em função de outras coisas, tipos carreira e tals. Mas cisma de dizer que num quer ser mãe não... As piores críticas virão de mulheres, pode crer. Homens também não economizam no levantar surpreso das sobrancelhas. Penduram no seu pescoço uma etiquetinha: "egoísta", "mulher-monstro".
Na outra ponta da linha, experimente ser mãe, tendo a maternidade como principal ocupação. Lá vem mais etiqueta. "Só mãe". "Acomodada".
E por aí vai, o cordão das coitadas só aumenta, de acordo com as escolhas. Poisé. Como assim, liberdade então? Se ao negarmos um ou outro papel, face à promessa de que podemos "ser tudo o que quisermos", damos a mão à palmatória da sociedade? Que liberdade é essa?
A realidade é que não é possível ser tudo isso e aquilo. Algo vai sair desconjuntado. O filho não vai ser criado direito, a carreira vai desgringolar, o marido vai embora na ventania, as noites de sono são pesadelo, o cabelo cai loucamente. 
Outra verdade é que cumprir papéis socialmente preestabelecidos não rima com liberdade.
Logo, queridas, esse papo de que ganhamos o mundo é pura mentirinha. Ganhamos o peso do mundo pra carregar sorrindo. 
Assim como são raras as pessoas que realmente fazem o que querem, mais raras ainda são as mulheres livres de verdade. Conheço algumas, memoráveis. Fazem o que querem e são felizes assim, independentemente do que forem suas escolhas e das críticas que ouvem.
Têm elas uma beleza radiante e etérea. Bate um vento e lá estão elas em pleno domínio de suas liberdades.
Vou tentando ser assim, desde pequenininha. 

sábado, 18 de agosto de 2012

indigesto

Tenho dificuldade em aceitar muitas coisas, acho que todos nós nos inquietamos com o que nos parece torto.
Mas muita coisa anda parecendo torta aqui nesse bananal. E logo, eu ando tendo muita dificuldade por aqui. (Bananal é a designação pra terra brasilis, de acordo com uma prima que há mais de vinte anos vive, feliz, no exterior).
O bananal tá difícil, muito difícil.
Difícil de aceitar, difícil de operar. 
Ontem tive ganas de não me meter a besta mais, e deixar de lado essa bobagem de assistir ao noticiário e consultar jornais várias vezes ao dia. Refleti e ainda estou refletindo sobre ônus e bônus de me manter informada / alienada. Só cheguei à conclusão de que ando sim, me mantendo bem chateada. 
Doses diárias de chateação? Aperte o botão.Tem pra todos os paladares, com ampla gama de amargos, passados, mofados e azedos. Difícil de engolir. Azias? Na certa.
Tudo errado, regado ao molho da infeliz normalidade. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"Todo roubo e toda a indiferença"

Semana passada foi-se embora um cordão de ouro com um coração que ganhei de paps quando fiz quize anos.
Coisa que eu gosto (ou gostava, ainda não sei) é andar na rua.
Sentir o vento, ver as pessoas, as árvores, os passarinhos, ver a vida acontecer. Na rua a gente sente a vibe do mundo, qualquer que seja ele. A gente é livre quando caminha. Imprime ao caminho nosso ritmo, vê com os olhos que te habitam naquela hora, escuta os ruídos, as gentes, presencia os movimentos à nossa maneira. Quando caminhamos pela rua estamos no mundo, não no nosso, mas no mundo que está aí pra nós, com suas mudanças ou suas permanências. Enfim, adoro caminhar. É o momento em que mais reflito sobre o que for que estiver me apoquentando, e, consequentemente, também elaboro perguntas e respostas.
Lindo, até então.
Nunca tinha sido roubada. Uma vez tive a mochila da Company roubada, por tê-la deixado no chão do Fiat 147 que mamãe tinha. Fiquei muito triste, mas não vi a cara do ladrão, tive essa sorte.
Mas dessa vez, o roubo foi cara a cara.
Uma voz na minha cabeça me disse (mesmo) que eu estava distraída. O vai e vem da região hospitalar me absorveu muito e também o sujeito estranho que estava à minha frente, com uma tornozeleira de presidiário (nunca tinha visto uma). As pessoas se desviavam dele, que andava a esmo, aparentemente se divertindo com as reações dos transeuntes a sua estranheza. Ele ficou prá trás, tomei o cuidado de apertar as passadas. Senti então uma mão no meu ombro. Esquisito. Não parecia ser alguém conhecido, pois era um jeito estranho de tocar no ombro. Quando me virei, vi um rosto masculino bem perto e senti seu dedo indicador na lateral do meu pescoço. Deslizou até encontrar a correntinha, que arrebentou facilmente. Com a outra mão, a aparou e colocou rapídamente no bolso da calça, se esqueirou entre mim e a banca de jornais, atravessou a rua como uma enguia por entre os carros e subiu correndo a avenida transversal, olhando pra trás.
Ele ouviu o "filhodaputa" que soltei, quando senti que aquele presente, caríssimo pra mim, se desprendeu irremediavelmente para sempre de meu pescoço. Não era o rapaz da tornozeleira. Era um rapaz comum, vestido como um jovem qualquer.
Chamei a polícia, que me atendeu no que pôde, mas que infelizmente não será capaz de reaver meu presente, quiçá meu gosto por caminhar pela rua.
No boletim de ocorrência o campo "motivação do delito" foi preenchido com a vaga explicação: "dificuldade financeira/ cobiça".
Olha, seu moço, é muito mais. Se tivéssemos um campo desse pra preenchermos com  as motivações para todos os delitos dos quais o infeliz cidadão brasileiro é vítima toda hora, todo dia, teríamos longos textos anexos.
Ao final destes, precisaríamos sempre citar o absurdo da lógica perversa de que "temos que nos adaptar e nos acostumar", porque ser desrespeitado é regra, não exceção.
Então dá licença, tô me retirando, embora o "retirar" se dê em parte apenas, pois não consigo me excluir totalmente dessa enganação injusta que é o Brasil. Se eu pudesse me retirar pra outra parte do mundo, como outrora fiz, picava a mula loguinho, pra não voltar nunca mais.
Tal qual Carlota Joaquina, batia os sapatos e não levava nem um pozinho desse solo amargo.

Título retirado da canção "Perfeição" - Legião Urbana, vale lemrar.

domingo, 12 de agosto de 2012

como aconselhar a um amigo

Ando bem requisitada nessa área.
De desilusões, passando por recomeços, a términos e engodos afins. Tenho discursado a respeito de tanta coisa em ouvidos atentos e ansiosos por respostas.
Meus caríssimos, atualmente, preenchem um amplo e variado espectro no que toca às querelas do romance, da aventura, das burrices, dos altos investimentos, dos comodismos, das construções e desconstruções, questionamentos então nem se fala!... Ufa.
Mas sempre me pergunto se não estaria, eu mesma, borrachando, sabe?
Porque conselheiros não ganham ISO9000 e nem são site de compras, em que os clientes satisfeitos vão lá e te dão estrelinhas, com um feedback para os próximos que vierem.
Então? Como garantir a seus amigos o melhor dos conselhos? Isso sem precisar que assinem um termo que te libere de ser reponsabilizado por eventuais fracassos?
Fato é que só aconselho se for solicitada (já falei aqui e repito: conselho que não é solicitado é intromissão!). E ponto.
Meu estilo de consultoria emocional é, de fato, diferente. Não me atrevo a lançar um: "Eu se fosse você faria xyz...". Ja-mais. A não ser, claro, se confrontada com a pergunta direta: "O que você faria no meu lugar?"
Gosto de ouvir, costumo falar pouco, e assim sendo, entendo o pedido pelo aconselhamento como uma chance de desabafo mesmo. E quantas vezes o desabafo, por si só, faz maravilhas? É interessante notar, quando a pessoa, ao verbalizar a querela acaba atentando para outros aspectos até então obscuros? Elas ouvindo a si mesmas se confrontam melhor com a coisa em questão.
E é magnífica a oportunidade de ouvir, o que quer que seja. Reconheço com grande carinho os momentos em que eles pedem emprestados minha escuta e minha atenção.
Então talvez eu até me saia bem nas aconselhanças. Me ocorreu agora que minha mãe conta que o vô Juquinha dizia que "Deus te deu dois ouvidos e uma boca pra escutar mais do que falar."
Faz sentido.
Mas coma verduras, sempre.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

antes disso...

Que preguiça o tal de Facebook...
Que preguiça da "vida" virtual.
É tudo tão vazio... a tela cheia de imagens, imagens, imagens... E só.
Sou chata mesmo. Nada melhor que a vida lá fora.
E tenho dito.
Ô se tenho.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

por causa da mulher

Peguei as propostas de redação da semana pra fazer em casa. A-do-rei quando vi que uma delas tinha um tema que já estava preparadinho pra virar post aqui: O papel da mulher no mundo contemporâneo.
Difícil é passar na peneira uma farinha tão fina. E fazer virar vinte e poucas linhas manuscritas.
E pena não poder escancarar a opinião, coisa cabível aqui, apenas (sera?).
Voltarei em breve, dizendo que... elas também são machistas.
Esse pano ainda vai dar manga.
Inté.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

o apito

Passados os dias que amanheceram e eu nao (hoje foi o teclado quem nao amanheceu, sorry...).
Enfim, findados os dias do incomodo. Nada resolvido, mas ainda assim, algo se resolveu. E miraculosamente sem terapia, agendada pra amanha, pois nao consegui matar as aulas de segunda pra chegar la.
Sei nao. Mas tem um aprendizado.
Escrevi no caderninho, segunda a noite, que parecia que tinha um apito de locomotiva na minha cabeca. Ja tnha ouvido aquele apito antes. A epopeia abaixo explicaria a imagem mental que fiz do aprendizado, e registrei assim (dois pontos)

Ela estava de pe na estacao de trem e ouviu o apito soar estridentemente. Fez que ia sair correndo com a mala na mao, sobressaltada, quando um senhor, conhecido, mas nao sabia de onde, se levantou de um banco banco e se colocou a sua frente (dois pontos)
- Minha filha, nao corra, tenha calma.
- Mas o apito... o trem... a viagem... o tempo!
(A ansia!)
- Voce diz que ouve este apito, e talvez ouca mesmo, repetitivo, nitido, alto, incomodo.
- Sim, eu ouco! Poisintao!
- Lembre-se de quantas vezes, ao menor ruido desse apito voce saiu desesperada pra pular no vagao. E o vagao nem era o seu! Outras em que voce nao terminou de arrumar as malas mas assim mesmo foi, amargando a falta de coisas que largou pra tras. Em outras, caiu, machucou, sua mala abriu e voce ficou ali, esparramada no chao da estacao enquanto o trem partia! Certa feita, era o apito do trem errado, antes do seu, mas, temendo ficar por aqui, temendo o que ia lhe acontecer, temendo a espera, voce foi. E chegou em outro destino. E assim tem sido!
(Os erros!)
- Mas, o tempo! O apito!
- Minha filha, quando e que voce vai aprender...
- Agora seria bom... estou cansada disso! Veja os meus joelhos ralados! Veja os meus farrapos, minha mala por demais pesada! Quantos bilhetes ja comprei sem que tivesse chegado ao meu destino!
(Mas, e o apito!)
- Sente-se aqui, se recomponha. Ouca atentamente que nao ha apito. Apenas o som das pessoas subindo e descendo dos vagoes, da estacao, o barulho das locomotivas que chegam e saem. Nao ha apito.
- Sim, nao ha.
- Quando o apito do seu trem soar, ai sim, voce ira ouvi-lo. Entao pare e ouca, atentamente. Voce nao ira perder o trem por esperar, mas ira perde-lo se se precipitar novamente.

E assim foi. E assim fui.
O tempo e precioso pra gente ficar sempre repetindo as mesmas bobagens. Mas parece que e preciso reconhecer nossa infinita capacidade de repeti-las e se dar conta disso. E algo dificil e desconfortavel de realizar.
Vou ali correr, depois almocar, depois aula. Ate o dia em que o pito soar.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

a descontinuação

Poisintão.
O segundo semestre começou, mas eu não.
O dia amanheceu e eu ainda não.
Tipo, o barco partiu comigo dentro, mas ainda não calcei os sapatos, quiçá fiz as malas.
Precisa de mais exemplos?

Sei  não, mas tô indo.

Ainda bem que a terapeuta me aceitou hoje e não vou precisar esperar até quarta.

Que manhã comprida, meu deus!

terça-feira, 24 de julho de 2012

pra não ficar que nem ocê

Me abana, porque foi essa resposta que dei a uma pessoa que veio me dizer, num humor sarcástico-venenoso: "Mas cê tá estudando demais, devia estudar menos, pra quê estudar desse tanto?"
ESTUDAR MENOS!!!!! Veja bem... Pense bem nisso...
Como se você estivesse pelejando pra emagrecer, por exemplo, e eu mandasse: "quê isso, dá uma folga, não faz mal um brigadeirozinho..." Cara, isso é veneno puro, ainda que acompanhado da vil desculpa de que "estou pensando no seu bem, pois gosto muito de você". 
Me convenço cada vez mais que amar é pretexto pra cada coisa...
Nessa minha empreitada, já ouvi de tudo, e por isso ando me blindando. As piores, ou mais cruéis observações, claro, foram disparadas por aqueles que mais me são caros.
"Você podia aproveitar que está fazendo estudando e fazer um concurso"
"Por que você não tenta outra coisa?"
"Não se esqueça, se não der certo, estou aqui, pro que você precisar"
"Por que você não faz uns bicos?"
E, claro, não dá (ou, leia-se que eu sou uma plasta mesmo) pra responder a essas marmotas: "Por que vocês não ficam calados? Ajudariam mais assim."
Mas essa daí, do título, saiu espontaneamente. Não me orgulho dessas reações não, até porque, conhecendo meu gado, antevi e se confirmaram as repercussões. Fui ridicularizada assim que virei as costas. Normal. 
Mas ó, que se dane. A gente não mexe com quem está quieto. E conselho, se não for solicitado, é intromissão. 
Sou do tipo diplomático, que pensa muito antes de falar, não gosto de polemizar e evito conflitos a todo custo. Mas ao que me parece, a vibe do saco cheio se instalou. Foi enchendo, desde criancinha. 
O que senti, depois que disparei isso, foi como se tivesse vomitado. As palavras pularam da minha boca, tão logo meus ouvidos detectaram a baboseira. E... "paf!" acertaram em cheio no feridão. Deve ter doído.
Ô se deve.

Poisintão. Deixo aqui algumas palavras de Contardo Calligaris, à Folha do dia 12/07("Os outros que ajudam (ou não)"), que refletem bem essa pendenga:

"(...) Por que os próximos da gente, na hora em que um reforço positivo seria bem-vindo, preferem nos encorajar a trair nossas próprias intenções?
Há duas hipóteses. Uma é que eles tenham (ou tenham tido) propósitos parecidos com os nossos, mas fracassados; produzindo nosso malogro, eles encontrariam uma reconfortante explicação pelo seu.
Outra, aparentemente mais nobre, diz que é porque eles nos amam e, portanto, querem ser nossa exceção, ou seja, querem ser aqueles que nós amamos mais do que nossa própria decisão de mudar. Como disse Voltaire, "Que Deus me proteja dos meus amigos. Dos inimigos, cuido eu"."

quinta-feira, 12 de julho de 2012

"(...) a gente cai sempre (...)"

Férias.
Estava assistindo agora há pouco o Saia Justa, cuja pauta era... piriguetes.
Tentavam desvendar, analisar, entender os porquês do "movimento". Achei interessante, porque pareceu uma análise de uma nova descoberta, mas daquelas que trazem mais questionamentos que respostas.
Concordo com Xico Sá, que disse que elas sempre existiram.  
Lembrei de um artigo de Mona Chollet, na Le Monde do mês passado: "As mães e as putas estão de volta". Ela falava que na impossibilidade, ou na dificuldade de vencerem na vida por meio da batalha diária que mistura intelecto e brigas de foice no mercado de trabalho, muitas mulheres recorrem às mais primitivas ocupações: simplesmente como mães ou como prostitutas. Ela fala da sedução e da maternidade enquanto dons inatos da natureza feminina, apresentando-se em muitos redutos como alternativas que tragam realização pessoal. (Qualquer semelhança com Bruna Surfistinha e a alta natalidade em favelas não é mera coincidência então).
Mas peraí, sem julgamentos de propósitos, não vim aqui pra isso, ok? Cada um (ou uma) é feliz do jeito que quiser e pronto. Não tenho nada com isso, nem você.
É nessa lógica que queria também discutir piriguetismo... Enquanto ferramenta feminina.
Fato é que mulher consegue o que quer. Não restam dúvidas.
Outro fato, muito confirmado, é que "homem tá difícil" (mas não quero entrar na discussão deste tópico específico). Porque, peraí, não dá pra discutir piriguetes sem discutir relacionamentos. Ou você acha que o aumento da piriguetagem varia proporcionalmente ao quadrado do desmatamento e inversamente propocional à crise das bolsas européias? Que nada.
O que vejo, na verdade, é mais uma das macaquices femininas pra... adivinhem? Conseguirem o que querem! Atire o primeiro sutiã quem discordar de que mulheres são exímias nas artes do disfarce, da dissimulação, do bote, da camuflagem, das teias, emboscadas, etc etc etc. Mulheres são autoras das mais engenhosas farsas, sejam visuais (aquela bunda é obra da calça) ou sejam comportamentais (Maria Madalena ou Lilith?). Tudo isso pra chegar onde desejam loucamente, seja festa de casamento, gravidez, promoção, cruzeiro, free shop ou decoração nova pra sala. E, obviamente, isso não seria diferente se o assunto é arrumar um bofe pra chamar de dela.
Mulheres são virtuosas em afirmar não querer aquilo que mais desejam, da maneira mais convincente possível. Então, homens, (tolinhos!), acreditam mesmo que aquela moça de família fantasiada de pinup só que sexo, só quer diversão, não quer nada sério. Eles acreditam nisso!
Eles vão atrás daquele mar de silicone, se embrenham na chapinha, acreditando que estão no controle da situação.
Enfim, acho mesmo, à revelia de qualquer feminista de plantão, que elas atraem a presa com a promessa de infinitos e fantásticos momentos eróticos enquanto afirmam: "Não quero nada sério".
A sapiência de Freud afirmou que "Entre o sim e o não de uma mulher eu não atreveria a espetar um alfinete". Você arrisca?

Assistam à reprise do programa se discordarem, e pasmem ao ouvir o depoimento de Xico Sá, que desabafou, pois havia "perdido"uma piriguete, e bem... assistam!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

um show

Estávamos assistindo um documentário no Globonews sobre Jorge Ben, quando, em um dos shows mostrados (1982), ele chamava Gal ao palco. Ficou claro logo de cara o improviso do momento.
Ela se levanta da platéia e sobe, sorridente. Linda, cabeluda, com uma roupa simplérrima, e deslumbrantemente sensual.
É, tinha algo mesmo que irradiava sensualidade nela, nos trejeitos, na fala, no canto absolutamente improvisado. A autoconfiança, a alegria, a espontaneidade.
E não tinha mesmo como não se maravilhar com a cena. Era uma coisa naturalmente magnética. 
Era isso, pensei.
Rodrigo brincou, dizendo:
"Naquela época tudo era muito doido". 
Sim, devia ter mesmo uma liberdade meio maluca no ar, mas talvez não fosse só isso...
Acho mesmo que tudo, incluindo - paradoxalmente - os espetáculos, tinham muito de simplicidade. E isso me deixa maravilhada, mesmo.
Eram poucos os equipamentos, as maquiagens, e quase desconhecidos os truques de imagem e som que hoje banham nossos sentidos, ao ponto do entorpecimento enjoativo. Mas eram shows de talentos de verdade. Esse era o propósito do show. Óbvio, mas esquecido, não?
Nossos olhos andam muito acostumados ao HD e afins, mas tanto, que cenas assim nos despertam de alguma forma.
Parece que chegamos àquele ponto grotesco das ficções científicas em que os personagens do futuro não reconhecem o que não for artificial, da comida à comunicação, se é que me entendem...
Tente imaginar uma mulher linda: sem silicone, sem lipo, sem "aplicações", sem toneladas de rímel, sem "definitiva", sem luzes, sem grifes pra estampar. Ela não é produto de indústria nenhuma, não é garota propaganda de nada. Ela existe sim, mas em poucos recantos.
Agora reflita: Quem é ela? Está na capa de alguma revista? 

Então. Somos capazes ainda de reconhecer a beleza? Será?

segunda-feira, 4 de junho de 2012

pra você

O que dizer em tão poucos minutos?
Não que me falte assunto, desabafo ou qualquer testemunho.
Queria reclamar do trânsito, da poluição, da internet, da política, da ansiedade, da espera, das incertezas...
Queria poder destilar tanta coisa que passa nas minhas ideias.
Mas não dá tempo, infelizmente.

Então resolvi te dar umas palavrinhas de presente.
Você, ao lado de quem acordei hoje.
Como eu te amo!
Nada tem mais valor pra mim do que seu carinho, sua presença, seu companheirismo.
Te amo muito, um tantão. E pra sempre.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

sobre saltos e o saltar

A vida não nos traz certezas. Chamamos de certeza o que nos traz segurança. Mas não há certezas.
Outro dia assisti um pedacinho de um espetáculo do Cirque du Soleil em que o rapaz, apoiado na corda bamba, dava piruetas no ar e caía lindamente de pé sobre a corda bamba. Eu, que morro de medo de altura, sentia arrepios pela possível queda, pelo desequilíbrio, pela vertigem.
E pensei comigo que antes de executar aquele movimento mágico, com certeza ele caiu centenas de vezes. E que com o tempo passou a cair menos, até chegar a cair muito pouco, ou cair apenas em dias ruins de ensaio. Mas imagino que a cada salto desde o início ele esteve cara a cara com o medo de cair e suas consequências: machucar-se, sentir vergonha, questionar suas habilidades e a escolha de seguir aquela carreira, de não ter ouvido conselhos sobre ser funcionário público (ou qualquer outra coisa) ao invés daquilo e por aí vai...
Mas é muito certo, muito mesmo, que por mais habilidoso que fosse, ele caiu e sentiu medo muitas vezes. E ouviu de tudo nesse meio tempo, vindo dos mais distantes até das pessoas que ele mais ama.
Mas ele seguiu com perseverança, até que ali estava ele, em pleno espetáculo, dono de seus pés, de seus movimentos, dono de si...
Porque comecei a perceber que quem não é dono de si é dono de muitas outras coisas... do medo, da preguiça, do comodismo, da baixa auto-estima, da descrença, mas principalmente de um futuro menos... sei lá... menos.
Assim, passei a crer que ter menos da vida é um desperdício, um absurdo, uma tristeza só. E que mesmo estando ainda na insistência de pelejar até não mais cair um dia, até mirar a corda com os pés certeiros e acertar o salto, já ganhei muito da vida. Muito mais do que se tivesse me enfiado nas pequenas certezas que me protegiam dos desafios e do medo de saltar.
O filme Invencible recentemente me encantou pelo significado: é a história real de um rapaz de 30 anos, habilidoso no futebol americano, mas que sequer tinha praticado este esporte na universidade, e se graduou como professor de literatura. Entre muitos apertos financeiros, surge a oportunidade de ingressar num time através de exaustivas provas físicas. Para frisar: atletas não costumam iniciar numa modalidade aos 30 anos, muito menos se não tiverem integrado os competitivos times universitários americanos. Ele se deparava a todo momento com o fato de ser "fora de hora", mas também com o vislumbre de seu sonho e com a aterradora realidade que o engolia. E um dia, se preparando para a seleção, volta pra casa exausto após horas de corrida. Ao entrar ofegante e desesperançoso pela sala de seu apartamento no subúrbio, ele se depara com as paredes descascando,  com a falta de móveis e com a aura triste daquele lugar. Ainda ofegante, ele faz meia-volta, bate a porta e retoma a corrida. 
O fim do filme não vou contar, mas é fantástico (http://www.imdb.com/title/tt0445990/)
Fiquei refletindo maravilhada, enfim: o que é realmente difícil? Onde ele iria chegar sentindo pena de si mesmo por seu cansaço e pela dificuldade de sua situação?

No início chorei quando caí, chorei muito porque era difícil tentar, penoso perceber a descrença de alguns e às vezes vinda de mim mesma. 

A primeira chamada veio agora, sem meu nome. Mas na verdade a coisa não acabou, está começando. Estou aguardando as próximas chamadas. É possível que meu nome esteja em uma delas.

Se eu tenho medo? Sim. Mas tenho muito mais em minha vida além do medo.
"Não há vencedor que não tenha sofrido", um professor disse no final exaustivo do ano passado. 
E isso é uma verdade.

sábado, 7 de janeiro de 2012

anedotas pela estrada afora

Ontem almoçamos num restaurante na beira da estrada.
Passaram em fila indiana carros com o ministro, jornalistas e afins.
Imaginávamos que eram os dois ministros, mas lemos no jornal que era um só, o dos transportes.
E diante tantos trancos e barrancos rolando morro abaixo, refleti que a Dilma deveria nomear aquele pernambucano, que não visitou nossas estradas, Ministro de Pernambuco. Ou na impossibilidade de estabelecer um ministro por estado, deveria mandá-lo de volta ao Pernambuco que o pariu.

Hoje, viajando de carro, passamos por um paredão que tinha um pedrão imenso rachado, descolando do paredão, quase caindo na estrada.
- Ó, a pedra rachou, nunca vi isso.
- É, nem eu, mas acho que a coisa é assim. Água mole em pedra dura tanto bate até que a estrada cai.
Sim, e ministro mole em presidente dura tanto bate até que começa o ano tomando pedala robinho.

Enfim, se ela precisar de uma vala, um barranco, uma lama pra despachar os sinistros ministros, podemos ajudar. Minas ia adorar ver rolar morro abaixo uns sujeitinhos lá de Brasília.