Estávamos assistindo um documentário no Globonews sobre Jorge Ben, quando, em um dos shows mostrados (1982), ele chamava Gal ao palco. Ficou claro logo de cara o improviso do momento.
Ela se levanta da platéia e sobe, sorridente. Linda, cabeluda, com uma roupa simplérrima, e deslumbrantemente sensual.
É, tinha algo mesmo que irradiava sensualidade nela, nos trejeitos, na fala, no canto absolutamente improvisado. A autoconfiança, a alegria, a espontaneidade.
E não tinha mesmo como não se maravilhar com a cena. Era uma coisa naturalmente magnética.
Era isso, pensei.
Rodrigo brincou, dizendo:
"Naquela época tudo era muito doido".
Sim, devia ter mesmo uma liberdade meio maluca no ar, mas talvez não fosse só isso...
Acho mesmo que tudo, incluindo - paradoxalmente - os espetáculos, tinham muito de simplicidade. E isso me deixa maravilhada, mesmo.
Eram poucos os equipamentos, as maquiagens, e quase desconhecidos os truques de imagem e som que hoje banham nossos sentidos, ao ponto do entorpecimento enjoativo. Mas eram shows de talentos de verdade. Esse era o propósito do show. Óbvio, mas esquecido, não?
Nossos olhos andam muito acostumados ao HD e afins, mas tanto, que cenas assim nos despertam de alguma forma.
Parece que chegamos àquele ponto grotesco das ficções científicas em que os personagens do futuro não reconhecem o que não for artificial, da comida à comunicação, se é que me entendem...
Tente imaginar uma mulher linda: sem silicone, sem lipo, sem "aplicações", sem toneladas de rímel, sem "definitiva", sem luzes, sem grifes pra estampar. Ela não é produto de indústria nenhuma, não é garota propaganda de nada. Ela existe sim, mas em poucos recantos.
Agora reflita: Quem é ela? Está na capa de alguma revista?
Então. Somos capazes ainda de reconhecer a beleza? Será?
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