sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bill, Sue e as malas

Bill e Sue vieram passar 4 dias conosco. Ficariam aqui em Ouro Preto, depois seguiriam para o congresso em Búzios e depois para Galápagos.
Bill é o ex-chefe do Rodrigo, da Austrália. Sue, a esposa dele.
São um "lovely" casal, como diriam por lá. Estão na faixa dos 60 anos; são muito cultos, inteligentes, viajados, pessoas interessantísssimas.
Chegaram no Rio no dia anterior à vinda para cá. Ligaram pra gente do aeroporto, contando que suas malas não tinham vindo. A cia aérea, lá em Sydney, não embarcou as bagagens deles. Colocaram o Rodrigo em contato com a TAM para combinarem de entrega-las em Ouro Preto dali a dois dias. Disseram que tinham algumas coisas nas malinhas de mão.
Menos mau, né? Pelo menos a escova de dentes...
Só conseguia pensar: Que chato isso, viajar por tantas horas e não ter uma roupa pra trocar, não ter suas coisas. Sempre me senti assim em relação ao que carrego comigo em viagens. Ao chegar num lugar estranho, aquilo ali vai te dar um conforto. Ter suas roupas limpas, sua toalha, seus cheiros, seu pijama. A sensação de que está tudo em ordem, enfim.

Organizamos a casa na véspera. Compramos goiabada cascão, doce de leite, castanhas-do-Pará, chás no Mercado Central, queijo minas frescal e outro meia-cura, dois tipos de manga, mamão, abacaxi; e , claro, nos certificamos de que havia pão-de-queijo suficiente (caseiro,tá? Peloamordedeus).

A visita foi maravilhosa. Há dois anos não os via. Que maravilha ter a oportunidade de conversar com eles novamente! Como são cultos; como conhecem o mundo, as coisas, os livros, as plantas (inclusive as do meu quintal!), como se interessam por tudo, querem experimentar tudo, ouvir, ver, conhecer (tinham lido, antes da viagem, a história da vinda de D João com a corte e também sobre Tiradentes).
Não fazem pré-julgamento de nada, como olham as coisas com a mente aberta, como ficam maravilhados com tudo. O mamão era "lovely!", a goiabada "wonderful!", as mangas e seus sabores distintos, "surprising!".
E sempre, sempre, têm uma história interessante pra contar.

Mas as malas não chegaram conforme prometido. A TAM se comprometeu a entregá-las em Búzios.
Mais alguns dias com as mesmas roupas, pensei, que transtorno.
Mas aí eu olhava o Bill, com sua calça cáqui, e sua camisa social com um furo debaixo do braço, descalço; sentado na nossa varanda, observando o quintal e achando lindo poder ver montanhas em volta e ouvir pássaros diferentes. Perguntava sobre a pedra São Tomé que reveste o chão, sobre a construção do vizinho, sobre os portugueses. Eram ele puritanos como os ingleses, no relacionamento com os colonos e escravos?
Comecei a perceber que estava mais preocupada do que eles a respeito das malas.
Enquanto a Sue descansava tranquila no sofá, comentei que se estivesse em seu lugar, estaria realmente chateada por não ter minhas coisas. A resposta foi... "surprising":
"Na verdade... não tinha nada muito importante na mala. Só iria me fazer falta a minha roupa de mergulho. Não queria chegar em Galápagos sem ela, pois a água é muito fria e eu não poderia mergulhar."

Acho que estou refletindo até hoje sobre isso.
O que há de mais importante na mala que a gente carrega? 
Pra que serve a tola sensação de preciosismo, o receio de usar o mesmo par de meias por vários dias?
O que é de fato importante na viagem? O que te veste ou aquilo do que você se despe?



Um comentário:

Marcia Franco disse...

tão verdadeiro! bjins, de alguém precisa muito aprender isso... love you.