A gente não se contenta mais só em observar.
Se não tiver foto, é como se não tivesse acontecido, ou passado diante dos nossos olhos. Contar a história pra alguém não tem mais o mesmo gosto se não sacarmos o aparelhinho e mostrarmos orgulhosos a foto, ou as milhares de fotos.
A falta da imagem desvalida a experiência. Se não tiver o espetáculo da imagem, a linguagem sagaz dos megapixels sempre à mão, é o mesmo de descreditar ao contador a veracidade do impacto da história..
Ontem, não me contive. Após observar maravilhada um ipê amarelo tinindo ao sol, contrastando com o céu azul-anil, e as linhas ondulantes do Edifício Niemeyer, capturei a imagem com meu celular. O mesmo era feito por todos os passantes que se atentaram para a cena.
Era tão lindo que eu queria levar pra casa.
Peguei uma das flores, recém-caida na calçada da praça e a coloquei dentro do meu livro.
Era tão lindo que eu queria levar pra casa.
À noite me lembrei da foto e, ao revê-la, vi que era apenas mais uma foto, nada de mais. Não ganharia um prêmio por ela. A árvore não me pertencia, nem as flores, nem o tempo, nem o azul do céu, nem o momento.
Guardar a imagem nos MB dos aparelhindos parece dar a muita gente a sensação infantil de que se apossaram daquilo, a petulância de possuírem. Porque parece mesmo que só isso importa nesses dias.
Mas fato é que eu nem precisava dela pra direcionar minha memória ao instante em que fiquei maravilhada com o amarelo vivo e ofuscante dos tufos floridos ao sol, no fundo azul limpinho do céu de agosto, enquanto as flores caíam devagar na grama quando os galhos balançavam na brisa, formando um lindo tapete verde-e-amarelo.
Aquela coisa que o coração captura, mas a antena não.